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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Experiência (filosofia)

Experiência (filosofia)

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A experiência é parcialmente derivada de observação e da sociedade daqueles que já são sábios
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Em epistemologia, experiência é o contato epistêmico (geralmente perceptual) direto e característico com aquilo que se apresenta a uma fonte cognitiva de informações (faculdades mentais como a percepção, a memória, a imaginação e a introspecção). Para alguns filósofos (Descartes, por exemplo) aquilo que se dá a qualquer uma dessas faculdades é experiência (embora ele não utilize essa palavra, mas sim a palavra pensamento). A experiência não é produto do seu conteúdo ou insumo, o experimentado, nem se reduz à experimentação do experimentado. Ela é o contato direto com certo conteúdo no modo característico de se dar à experiência desse conteúdo. Ao olhar para a tela do computador, cada um tem a experiência característica de uma tela de computador. Ao olhar para a grama, experiência característica de grama. Ao tomar vinho, experiência característica de vinho.

O conteúdo da experiência

Experiências também têm, algumas vezes, um conteúdo. O conteúdo de uma experiência é aquilo que ela representa. O conteúdo da experiência visual de uma parede branca é a parede branca, de uma parede azul, a parede azul.
Todavia, há experiências que não têm conteúdo. Um orgasmo, por exemplo, não representa nada. A escuta de uma sinfonia também não parece ser uma experiência na qual alguma coisa seja representada.

 Epistemologia da experiência

Em sentido primário, a experiência está ligada às sensações e à percepção. No entanto, algumas vezes as ilusões e alucinação também são consideradas experiências. O critério para o tratamento de algo como experiência é, muitas vezes, a interpretação da noção de conteúdo. Um filósofo como Gareth Evans diz que ao alucinarmos nós não pensamos, pois pensamentos requerem objetos dados pela experiência. Um filósofo como Descartes, por sua vez, trata ilusões e alucinações como experiências, visto que as mesmas são estados mentais e fornecem um conteúdo à mente, conteúdo esse que ele chama de realidade objetiva. A realidade objetiva é a existência da coisa na mente, e difere-se da realidade formal, a existência da coisa fora da mente.
Em um sentido terciário, experiências místicas também são experiências. Mas essas não são estudadas pela filosofia, embora os exercícios espirituais, seus parentes próximos, sejam.
Veja também: Realidade

 Metafísica da experiência

Experiências representam um conteúdo, e possuem um caráter. Uma coisa não se confunde com a outra. A experiência de um quadrado vermelho representa algo que é quadrado e vermelho, mas não é, ela mesma, quadrada ou vermelha.
A experiência tem um modo de ser próprio. Ela é um estado mental do indivíduo. Sendo um estado (metafísica), ela é algo que se dá de maneira contingente mas causalmente determinada.
Sempre que está consciente o indivíduo experimenta algo. Em certo sentido, o experimentar é uma das notas definidoras da consciência. Todavia, embora estar consciente seja, entre outras coisas, experimentar, e ter consciência seja quase-necessariamente experimentar, aquilo que se experimenta, o conteúdo da experiência, é contingente. Estados são configurações de um indivíduo em determinado momento. Não é necessário que no momento atual eu esteja lendo. Eu poderia estar fazendo outra coisa. Nem foi necessário que eu tomasse vinho na noite anterior. Eu poderia ter feito outra coisa. Assim, ter consciência parece ser necessariamente experimentar, mas aquilo que se experimenta é contingente.
O fato do conteúdo da experiência ser contingente não significa que o mesmo seja aleatório. Na noite anterior tive experiência de vinho porque tomei vinho. Houve uma relação causal entre a ingestão de vinho e a experiência de vinho. Eu poderia ter tomado vinho e não ter tido experiência alguma - por estar bêbado ao ponto da insensibilidade, por exemplo. Mas daí não teria tido a experiência do vinho por causa da minha configuração corporal, assim como a teria caso tivesse bebido menos. Assim, o conteúdo da experiência é contingente, mas pode ser causalmente determinado.

 Receptividade cognitiva e involuntariedade

Uma experiência é algo que acontece a um indivíduo, não algo que ele faz. Ao experimentar o indivíduo é passivo. Experiência é, nesse sentido, uma paixão. Isso significa que, ao experimentar, o indivíduo não exerce sua vontade. A experiência se dá ao indivíduo quer ele queira, quer não. Isso é bastante claro nas experiências de dor.

 Experiência e identificação do conteúdo mental

Apesar do indivíduo ser receptivo e passivo no experimentar, isso não significa que ele seja capaz de identificar e discriminar cada elemento da sua experiência. O indivíduo pode ter recebido informações que é incapaz de descrever ou reconhecer. No jargão de Kant, o indivíduo pode ter intuições e carecer dos conceitos adequados para expressá-los.
Para ilustrar a situação de alguém que tem uma intuição mas carece do conceito apropriado Kant criou o experimento mental do selvagem da Nova Holanda. Kant pede que imaginemos um não-europeu sem informações sobre a Europa chegando na Europa e vendo uma casa. Onde esse não-europeu vive não há casas. O não-europeu a casa, e nesse sentido tem uma experiência de casa, mas não vê uma casa, pois não tem o conceito de casa. Diante desse quadro, podemos perguntar se esse não-europeu teve a experiência de casa. Não será preciso ter o conceito de casa para ter a experiência de casa?
A situação fictícia do experimento do selvagem da Nova Holanda é bastante comum, e nada tem a ver com o preconceito em relação a não-europeus. Em "A Ciência do Concreto", capítulo de O Pensamento Selvagem, Claude Lévi-Strauss relata a situação de cultos europeus formados em biologia e botânica que vão para campo com nativos locais catalogar novas plantas. Comumente tais estudiosos coram ante a riqueza do vocabulário dos nativos, mesmo crianças, e da capacidade dos mesmos de descrever os menores aspectos de uma ampla gama de plantas locais. Em tais situações os estudiosos são os "selvagens da Nova Holanda". São eles que vêem, tocam, cheiram e saboream o que não podem descrever. Tais estudiosos experimentam o que não podem descrever ou conceitual deficientemente?
A resposta mais plausível é: sem dúvida. Experimentar é uma coisa, ser capaz de descrever ou hábil para conceitualizar o experimentado é outra coisa. De acordo com essa resposta, a experiência é pré-conceitual. Tal seria a resposta kantiana segundo o filósofo João Carlos Brum Torres em seu artigo "Kant e o Selvagem da Nova Holanda".
Essa é a resposta mais plausível porque a resposta contrária nos levaria a ter que admitir, por exemplo, que uma pessoa que nunca ouviu falar em orgasmo não experimenta orgasmos. Isso é no mínimo implausível.

 Moralidade

Há questões morais ligadas à experiência. Como a experiência não é fruto da vontade, o indivíduo não pode ser responsabilizado pela mesma. Não há falta, erro ou pecado vinculado ao mero experimentar. Em conseqüência, não deveria haver culpa. Todavia, várias sociedades, inclusive a nossa, responsabilizam o indivíduo, em certas situações, caso ele voluntariamente degrade a qualidade da sua experiência e coloque-se em certas situações onde pode agir mal em decorrência disso. São fatores que degradam a qualidade da experiência a drogadição e a dor, por exemplo. Mas a responsabilização não se aplica quando a degradação da experiência é involuntária. Vejamos alguns casos envolvendo experiência e moralidade.
  • Um indivíduo que se alcooliza ou se droga entra, em caso de excesso no consumo, em um estado alterado da consciência. Nesse estado ele pode ter experiências que o levam a certas atitudes. Ele pode, por exemplo, alucinar que é uma laranja, e saltar da janela do segundo andar quando vê seu amigo entrar, pois o que vê, sua experiência, é uma faca para descascar laranjas. Esse indivíduo morre por causa da queda. Ele é responsável pela própria morte? Somente indiretamente. Ele é diretamente responsável apenas pelo abuso de substâncias que alteram drasticamente sua experiência. Mas, como aquilo que está sob sua responsabilidade direta possibilita aquilo que está sob sua responsabilidade indireta, parece plausível concluir que ele é responsável pela própria morte. A mesma seria o resultado de uma ação errada, não de uma fatalidade.
  • Um policial político tortura um preso político para obter informações. A dor e o medo da dor fazem o preso fornecer todas as informações extraídas. O preso é responsável pela traição dos seus camaradas? Não, pois a responsabilidade moral requer voluntariedade. Em uma situação de tortura o indivíduo tem experiências de extremo sofrimento que não deixam espaço para sua vontade.
Em resumo, se a qualidade da experiência é fruto de algum tipo de decisão ou ato da vontade, então o indivíduo é responsável pelo que segue da mesma. Mas, se a qualidade da experiência não é fruto de algum tipo de decisão ou ato da vontade do próprio indivíduo, então ele não é responsável pelo que segue da mesma. Assim, o alcoolista é responsabilizável pelo que faz embriagado, mas o torturado não é responsável pelo que faz sob tortura.

 Bibliografia

  • Pendlebury, Michael. "Experience, Theories Of." In A Companion to Epistemology, editado por Jonathan Dancy e Ernest Sosa. Malden (MA, EUA) e Oxford: Blackwell, 2005 [1992].
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